O arquétipo de Sagitário é filosófico, tem a ver com buscas e elas não são viagens externas
05 de Dezembro de 2021, 17:20
Ana Karina Luna é escritora, artista visual, designer e bruxa; editora, fundadora/proprietária da Lua Negra Cartonera *
Já que entramos sábado (5) na lunação sagitariana, então, vamos esmiuçar um tiquinho esse arquétipo que é, de fato, tão filosófico. O propósito de Sagitário tem a ver com buscas. E essa é uma dica de ouro para os sagitas. Não é à toa que ele é o regente da Casa 9 na mandala astrológica. A casa conhecida como "casa de deus". Chamamos de Deus um poder que achamos que é maior do que nós. Mas que no fundo, está em nós, em tudo, na natureza, no cosmos. Dizemos "Deus" quando ainda não temos estrutura para sustentar, e nos responsabilizar, por esse poder infinito.
Não é o ego da gente que tem esse poder. É que somos parte desse poder, que nada mais é do que a vida, a fortitude de tudo, a consciência manifesta em todas as suas potências. Seja aqui, em Plutão, em Marte, na Lua, ou ainda em lugares que nunca nem imaginamos. Somos partes disso tudo, e assim somos deuses e deusas. Não estamos à parte disso e apenas aguardando dádivas como pobres vítimas passivas. Não. Estamos vivenciando-o a cada momento.
Então: se Sagitário rege a CASA DE DEUS, ou seja, há uma busca por saber como é que esse "deus" funciona, como tudo funciona. Kíron, o centauro da carta do Eremita no tarô, é um Médico, um Padre, um Papa, um Estudioso, um Sábio, um Filósofo, uma Autoridade, um Curador. O centauro Kíron é uma das representações do arquétipo de Sagitário.
O cerne dessa busca do arquétipo de Sagitário não é externo, embora possa se tirar vantagem de qualquer coisa externa para satisfazer seu propósito, porém só podemos achar o que é nosso, o que está dentro, o que sentimos e o que temos. Assim é que sempre NOS achamos, pois só se vê o que se tem — essa é a regrinha. Acharemos fora o que já achamos dentro. E não o contrário.
Portanto, sagitarianos, primordial é ter cuidado com a obsessão com "viajar externamente" — ou seja, ficar procurando fora uma jornada que é sempre interna.
Assim como o Leão veio para brilhar, o sagitariano veio para "jornar". Mas nenhum desses processos são externos. O sol só brilha porque "olha para dentro", com muita força, para o "próprio umbigo", encontra-o, reconhece-o, e colocando toda a sua atenção em seu cerne (pressão para dentro), ilumina para fora. Brilha.
O mesmo é com o Sagitário: a jornada é a interna. A viagem é a descoberta de um caminho. Sagitariano é especialista em (e apaixonado por) caminhos.
E este caminho é um caminho próprio. Assim como Leão busca a luz própria (qual é o meu brilho único?), sagitas precisam achar o seu caminho, sua trilha.
Canso de dizer para sagitarianos, quando eles me falam em viajar, que a vontade que está dando é "outra", mas eles olham para mim ou decepcionados comigo, ou entediados, ou dando branco, sem saber exatamente o que isso significa.
A necessidade da viagem externa no sagitário deve ser vista com muito cuidado, pois quase sempre é sintoma de "substituição". No fundo, está sentindo uma necessidade de DESCOBRIR-SE, de transitar por si, de caminhar por dentro, de descobrir trilhas internas as quais nunca viu, mas se o Sagitário não segue esse caminho, ele entra no terreno do caricato, da compensação. Pois sagitário é pesadamente sobre filosofia e filosofia é o pensar: o eu, o mundo, a vida. Mas pensar é interno. O entender é interno. Não precisa nem sair do canto. E isso pode ser uma vantagem.
Entretanto, se o sagitariano não acessa, ou não se dispõe a isso, o chamamento continua, pois, a vontade da jornada existe, de conhecer esses caminhos, e aí, adentrado o lugar do caricato, que é algo grosseiro, comparado com a riqueza da coisa real, que é quando substituímos uma coisa essencial, rica, por algo superficial, um tapa-buraco.
Aí para essa viagem externa do sagitariano virar uma fuga de si mesmo é um pulo. E ele cada vez vai querer viajar mais, e mais, e mais, e nada alimenta. É como comer Cheetos para o jantar, não preenche, mas tem um gostinho mais-ou-menos, ao invés de uma canja de galinha. A canja, ele só toma uma e sacia. O Cheetos ele vai comer, comer, comer, inchar, engordar, e nada de nutrir.
Voltando para o Leão: os leoninos que estão puramente saciando sua necessidade de brilho aparecendo demais, pegando espaço demais, se vestindo exagerados demais, muito preocupados com paetês, lantejoulas, comprando muitas roupas, gastando demais, é como o Sagitário que viaja, viaja, viaja pelo mundo e não conhece suas próprias trilhas internas, qual é o seu verdadeiro caminho único. Aquele que é dele unicamente, que ficará intacto e inexplorado se ele não o for procurar, e que precisa ser desbravado pelos próprios pezinhos de centauro dele.
Um grande exemplo de sagitariano que, sim, viajou muito pelo mundo, mas não para ver lugares, viajou porque sua jornada interna foi tão grande que as pessoas o seguiram e o convidaram para abrir picadas para elas: Claudio Naranjo (um excelente documentário sobre a sua jornada de vida, lançado em 2019, é "Viaje interior", com roteiro e direção da espanhola Gloria Matamala). O psiquiatra, filósofo e escritor chileno Claudio Naranjo (1932-2019), sagitariano do dia 24/11, foi mesmo prolixo, um grande estudioso, e escreveu livro que só a peste. A busca era sedenta.
A viagem externa é pobre substituto para a o real propósito do Sagitário. É o desejo de rebordosa quando o propósito em si não está sendo atendido. É como o que sobra depois da digestão. “Sagitários do mundo, acordeis para o filosófico (o Amor à Sabedoria), que não é nada chato como penseis. É o que dá significado às informações. E deixeis as besteiras das viagens de lado! Ou ao menos, sede profundos em suas viagens, mesmo que leves. Para saciardes a ti e deixardes de rodar o mundo de avião e carro só gastando petróleo.” E vamos imaginar que foi Sócrates quem disse isso.