Um portal evolutivo para uma nova energia que dá acesso à resolução do problema do ser humano dividido
11 de Fevereiro de 2022, 16:51
Ana Karina Luna é escritora, artista visual, designer e bruxa; editora, fundadora/proprietária da Lua Negra Cartonera *
Por uns anos eu dei um punhado de palestrinhas chamadas “Eros & O Patriarcado”. Esses dias, percebi que há uma conjunção no céu que lembra esse assunto novamente: Vênus & Marte.
As pessoas ficavam atônitas com o título da palestra. Será que é pornografia? E quem é Eros e quem é o Patriarcado? Pois bem, vamos falar de uma das maiores distorções criadas pela visão de mundo patriarcal: a de que Eros é o Masculino, como se fez crer (mais uma crença falha sobre a “libido do macho”, e até isso o masculino desintegrado quis roubar do feminino). Estou aqui para dizer que Eros é, de fato, o Feminino, é o Yin.
E como é isso? — você pode estar se perguntando. Simples: nosso corpo tem meridianos de energia chamados chacras. São sete os chacras principais: três superiores (de energia mais masculinizada), um no meio (neutro, o do coração), e três inferiores (de energia feminina). O coração é a ponte entre o Yin e o Yang.
Esses três chacras inferiores são do Períneo (confiança, raiz, “eu sou”, “eu tenho”), Sexual ou Sacral (poder de criar, “eu sinto” — no sentido sensorial — “eu gozo”), e Plexo Solar (poder pessoal, “eu posso”, “eu faço”, o tamanho da minha vontade de agir no mundo).
Esses são os três chacras femininos em nós. No primeiro, nos enraizamos e conectamos com a terra, o chão, ficamos de pé, temos base, e base só há se nos dermos (ou sentirmos) segurança, autoconfiança para estarmos aqui e vivos. No segundo, está o tesão de estar vivo, a alegria de criar, o chacra do prazer, onde co-criamos. É a potencialidade de gestar qualquer coisa, criança, projeto, vida. Já fica a dica que para criar há que haver gozo. O gozo é criador. Não é assim que tudo se cria no mundo? Na explosão do prazer daquilo que está vivo, que é estar aqui. Enquanto no primeiro chacra reconhecemos que somos e que estamos aqui, no segundo chacra sentimos prazer por existir e este prazer cria e co-cria ao nosso redor. O segundo chacra fica dois dedinhos abaixo do umbigo. Lugar crucial, também chamado de HARA.
E no terceiro chacra, mostramos a que viemos. Fazemos, damos forma, vamos ao mundo e colocamos nossa vontade, o que queremos e como queremos. É o poder da minha capacidade de dar forma ao que com prazer concebi. Nesse chacra sei o que posso e o que não posso.
Bem, já deu para perceber então, o que é o feminino? Raiz, gozo e vontade. Geralmente, na depressão, faltam essas coisas. Coisas muito concretas, muito corpóreas, e muito sensoriais. Sem falar que são coisas de base. Sem isso, o ser fica solto. Sonhando...
Assim, na energia feminina, planto-me no chão, regozijo-me e celebro ser e estar vivo, e tenho força para ir à luta.
Então, não é o masculino que é o fazedor em nós? Não. Os homens que conseguem fazer muito, usam a energia feminina interna para fazê-lo, apenas não sabem. A energia masculina é etérea, é Logos (o saber pensante). Eros é o dionisíaco, o princípio do feminino.
Sim, é isso mesmo que você já está pensando: a energia Yin, a polaridade do feminino em nós, é que é a responsável pela nossa libido. Nessa polaridade estão corpo, sentidos, instinto. Dá para perceber também que isso é muito do que é negado no patriarcado? Tudo isso é meio proibido.
Nas palestras, havia muitos que compreendiam bem isso e outros que até se irritavam quando se falava em polaridade. Isso ainda acontece hoje quando falo em polaridades. É curiosa a ojeriza a falar de opostos, já que os opostos são a coisa mais natural. Talvez seja porque fala-se muito nos opostos, mas esquece-se do espectro entre eles, o que acaba por excluir grande parte da vida também (e das pessoas).
Ok: a vida não é só de opostos, mas eles existem, a vida não é só espectro (área cinza), mas ele existe. Se não compreender essas duas coisas, fica difícil fazer sentido de como a natureza, a nossa própria natureza, e a natureza do mundo e suas relações acontecem.
Vamos entender Yin/Yang como um único sistema atuando juntos em nós, incluindo seu espectro.
Talvez as pessoas se irritem quando falo em feminino e masculino porque achem que têm que se encaixar em um ou outro, ou que são apenas esses dois aspectos. Mas, na realidade, é uma dança, é um pareamento que dá infinitas combinações e frutos.
Para as pessoas entenderem um pouco melhor, digo que esses dois opostos se pareiam de mil e uma maneiras, tipo: digamos que neste exato momento estou usando 73% do meu Yang e 27% do meu Yin. É uma parceira dentro de mim. Claro, não se mede isso, apenas falo assim para sabermos que eles não se largam e acham milhares de maneiras de trabalharem juntos. Como um tango, com suas dezenas de passos: uma hora um lidera, outra hora é o outro.
A maneira como compreendi melhor foi que para entender bem esse sistema de pareamento de opostos há que conhecê-los em separado num primeiro momento, suas características puras, para depois poder sentir e ver como eles se misturam em sua “dança”. Ninguém ou nada sobreviveria ficar apenas em uma só polaridade (e por isso o sistema patriarcal criou uma vida que é insustentável pois estamos forçando algo irreal quando se decretou que a mulher só usaria seu Yin e o homem apenas o seu Yang = não é assim que funciona na prática. Por isso é importante conhecer como funcionam Yin/Yang para assim conhecer o engano. E sacar o tango.
Seria como uma mesa só com dois pés. Cairia. E é assim que vivemos, tentando viver num pé só (esse engano termina por gerar dependência e co-dependência impossibilitando um bom sistema de vínculos com si mesmo e com os outros).
Tudo o que existe, existe porque as duas forças (Yin/Yang) estão em atuação contínua e combinada o tempo todo. Sim, pode-se estar mais no Yin e um pouco menos no Yang, por exemplo, em dado momento, mas a coisa funciona de forma a se equilibrar de alguma forma, mesmo que haja uma compensação.
Amo tanto esse assunto que digo que a arte de viver é saber, intuitivamente, a combinação desses dois, a cada momento. Quando ativar mais o Yin, quando ativar mais o Yang. Quanto entrar, quando sair. Quando estar no externo, quando estar no interno. Dionísio e Apolo, a eterna dança da vida.
A própria psicologia traz o tema “polaridades” (especialmente a Gestalt, na qual tenho formação). Luz e Sombra. Sol e Lua. Dia e Noite. Pai e Mãe. Nossa cabeça pensante é dual. Somos feitos binários, ao menos até agora (nascemos de pai e mãe, sem exceção). E o lindo paradoxo é que mesmo criados binários podemos também ser mil e uma coisas. Porque somos simultaneamente feitos de opostos e somos também o espectro entre esses opostos. Já ouviu falar do Caminho do Meio? Nele, não se usa só o meio, mas o caminho inteiro como se necessite, a cada momento. Esquerda, direita, meio, meia-direita etc. Então, equilíbrio não é estar no meio, é fazer o que cada momento pede. Há momentos de neutralidade e momentos de exagero, e há as coisas entre eles.
E atenção para não trazer pré-conceitos negativos ou positivos para os aspectos Yin e Yang. Tanto Yin como Yang podem ser usados positiva ou negativamente. Notar que percebemos alguns aspectos femininos como negativos não porque sejam, de fato, mas exatamente porque nesses seis mil anos de patriarcado houve uma construção agregando negatividade e erro aos aspectos do feminino. E perceba também o contrário: quantos aspectos masculinos são tidos como positivos, mas que também têm um lado negativo. Ex.: a sabedoria só vem quando se é mais velho, então nessa área, há perda em ser jovem (ou um ganho que ainda não veio). Portanto, a ênfase no masculino passa a ver juventude apenas como positiva. Ou: luz demais ofusca (muita informação, por exemplo, ou verdades que ainda não se aguentam). Ou: muito céu (apenas ideias e pouco fazer) deixa a pessoa sem terra (aterramento), sem base, oscilante, sem constância (sem raiz, que é Yin; a árvore sem raiz não aguenta ventos, então não dura, cai, como caem negócios que não têm alma, raiz, essência).
A biomimética é uma disciplina que presta atenção na natureza para trazer inovação e para entender todo tipo de processo. Através dela pode-se fazer essa observação: na natureza, a vida nasce de pares. E já que nascemos de pai e mãe — sim, dois seres, mesmo que por um minuto, foram um macho e uma fêmea. Essa é a premissa natural para formar outro ser — e você acha que a nossa psique é feita de quê? Por esses dois pilares. Mãe e Pai. Yin e Yang. Misturados em infinitos combos!
Há uma terceira parte, em nossa psique, que surge desse pai e dessa mãe: o filho, mas não vamos aprofundá-la aqui. Basta dizer, como colocou Freud em sua tríade (Superego/Pai, Ego/Mãe, Id/Criança) que a Criança está lá, e quando Pai e Mãe, Yang e Yin, são restituídos aos seus sagrados e divinos lugares, a criança se liberta para três coisas: 1) ser os opostos; 2) ser o espectro entre esses opostos, e ainda por cima 3) ver esse sistema de fora. Isso é chamado Consciência Plena. Mas aí (...) já poderíamos entrar em como a Meditação nos traz a isso. Paro por aqui.
Perdoem-me o entusiasmo por esse tema fascinante trazido pelos Taoístas — esses sabiam de alguma coisa, nesse TAO de fluxo do universo.
Mais referências para entender melhor os significados ocultos no Yin e Yang você pode acompanhar aqui: Os significados ocultos de "yin" e de "yang" - John Bellaimey. E aqui, neste fragmento de um vídeo da Pollination Tarot (@blogueiramistica).
* Você pode se consultar com Ana Karina Luna — Tarô, mapas astrais; faça contato em @luanegracartonera