E hoje é Lua Nova em Virgem às 21h52, quando começa a Lunação de Virgem, que durará 28 dias, seguindo o ciclo da Lua; Lilith é o feminino-sombra em todos nós
06 de Setembro de 2021, 10:39
Ana Karina Luna é escritora, artista visual, designer e bruxa; editora, fundadora/proprietária da Lua Negra Cartonera *
Uma vez fui levada a um lugar, aqui em Maceió, chamado Caverna de Lilith. Não posso evidenciar quem me levou, mas o que vi lá posso contar.
Essa caverna encontra-se num lugar deveras óbvio, mas que aceito que só se torna óbvio depois de o havermos encontrado. É um lugar comprido, que vai de um lado ao outro do quarteirão. Logo depois da porta de entrada — que, pasma, reconheci da minha vida pregressa como arquiteta, como uma porta holandesa, feita de duas folhas verticais, uma embaixo e outra em cima, a chamada “porta de estábulo” —, do lado direito, dispõem-se quartos pequenos com suas portas ponteando o longo corredor escuro — as paredes levaram-me a olhar para o teto, pois elas acabam antes de chegar lá, e não há forro. A visão desse arranjo entre paredes e telhado que não se tocam é um tanto escultural, e só me dei conta disso naquele dia. Tudo muito parecido com uma casinha do interior, só que bem no meio da cidade.
Meu guia me levou até o fundo. Quase não havia luz, mas, curiosamente, não era escuro. É possível que houvesse velas aqui ou acolá, ou uma claraboia, não me lembro — se eu tivesse dez olhos estariam todos fixados no fundo da casa, de onde nos aproximávamos.
Vi uma mulher, primeiro, em pé. Ela logo se virou quando chegamos mais perto. Meu guia não me apresentou, mas fez uma reverência que também não posso revelar, e sentamos no chão. Ela, numa cadeira, a qual eu não conseguia ver direito. Tampouco eu conseguia ver o rosto dela, mas percebi bem o volume do corpo, sua delineação, os cabelos excessivamente longos descendo pelos dois lados da linha do corpo. Um vestido longo sem detalhes, com um decote em V, e mesmo no escuro vi que era de um azul tão conhecido, me lembrei de Iemanjá.
Sem eu esperar, meu guia disse “pergunte o que quiser”, e eu, no abalo da surpresa — pois achei que eles iriam conversar e eu iria, quieta e esquecida, apenas assistir a não sei o quê exatamente — me vi, num susto, na berlinda. Antes que eu pudesse pensar, algo se moveu em mim e eu mesma me ouvi dizer, “o que é o místico?”
Até hoje não me perdoo da chance perdida. Me senti traída por mim mesma. De todas as coisas a perguntar, uma multiplicidade de assuntos que tenho em minha cabeça, ou sobre a minha vida, meu trabalho, amores, dinheiro, saúde, futuro, o sentido de tudo, se Deus existe, o fim das guerras ou da peste, se alguns líderes caem ou não, e o feminismo, vinga? Qualquer outra coisa, eu quis saber sobre um assunto absolutamente irrelevante para a mente mundial. O misticismo.
É óbvio que este é assunto que me interessa também, mas não nessa ordem. Por exemplo, se fosse para seguir nesse tipo de tópico, me perdoaria muito mais facilmente se eu houvesse perguntado, “quando acaba o patriarcado?”, ou, “quando as religiões se extinguirão?”, ou ainda, “qual a missão da mente humana?” Especialmente porque a maioria das pessoas não se importa o mínimo com o que seja o místico e, de fato, até inventamos uma palavra para falar do que não tem veracidade ou compromisso: misticismo.
(E escrevendo isso, minha cabeça novamente toma à frente e produz uma pergunta ainda mais louca: “É o patriarcado um misticismo?” Mas graças às deusas não perguntei isso).
Na verdade, já que estou contando-lhes isso agora, penso que realmente deveria ter perguntado àquela mulher tão disponível a tudo naquele momento, “o que é o patriarcado”. E assim eu poderia relatar-lhes aqui exatamente o que ela havia me respondido. Digo isso porque por aí por onde ando, vejo olhos revirando e caras incrédulas quando a palavrinha “patriarcado” vem à tona. Mas já que não fiz a pergunta, só o que posso recomendar são os livros escritos sobre eles e nada mais direto do que isso.
Mas há algo que me intriga, e que só agora percebo, enquanto me lamento, é que perguntei exatamente o contrário do patriarcado — sua antítese: o místico. Não fui para o óbvio, mas o escondido. O oculto sempre me fascinou e fascina a muitos, eu sei. E apesar do efeito pejorativo que o místico tem carregado, não consigo deixar de vê-lo em tudo. Pronto. É isso o que eu senti naquela casa. Ela não era patriarcal, era mística. Profunda, ambivalente, aberta e escura, óbvia e não compreensível.
A mulher aguardou um pouco. Nada se moveu, especialmente dentro de mim — nunca me senti tão quieta, pregada no chão, naquele piso de concreto encerado e meio vermelho.
De repente, me dei conta de que havia me enganado, seu vestido não era azul de jeito nenhum. Era de um vermelho escuro, mas não tão escuro quanto o sangue. Havia uma vivacidade na cor. Na verdade, penso que o vestido dela mudou de cor, mas isso não sendo possível, tomo que me enganei e vi o que quis ver, como fazemos nós humanos quase sempre. O estranho é que eu via claramente o vermelho do vestido agora, mas o azul que eu tinha visto pairava em algum lugar, não compreendo como, mas senti que não tinha ido embora. Pensei, “será que ela é uma Iemanjá disfarçada?”
Quando saímos, meu acompanhante disse, “essa é a Lilith, uma descendente das Pitonisas, e isto onde você entrou é a caverna-oráculo dela”.
Todo mundo tem uma Lilith no mapa astral. A Lilith é o feminino-sombra em todos nós, ou seja, aquilo que somos, mas negamos, pois não gostamos daquela parte — e aí escondemos numa caverna interna (geralmente tem a ver com alguma parte de nós rechaçada ainda em criança, por pais ou sociedade). No entanto, mesmo escondida, ela não para de agir nunca em nós, pois é parte nossa. E quanto mais escondida, mais atua imperceptível, geralmente destrutivamente. É por isso que é importante reconhecê-la, para integrá-la e usar seu potencial sabiamente. E atenção: estar na sombra não quer dizer que é uma parte ruim, mas que apenas está escondida, pois não nos identificamos com aquela característica, e assim a rejeitamos. E então a escondemos de nós mesmos e dos outros, a ponto de realmente não sabermos que somos aquilo. Vamos falar mais da Lilith na próxima Lua Cheia, dia 20/9 — como sacar que parte é aquela e como vê-la no mapa astral — pois Luna Llena é que é o dia certo para falar de um arquétipo tão intenso e “escuro”.
Por enquanto, lhes digo: hoje é Lua Nova em Virgem às 21h52, quando começa a Lunação de Virgem, que durará 28 dias, seguindo o ciclo da Lua.
Porém, enquanto não chega Virgem — mais tarde —, ainda estamos nas últimas horas da poderosa Lunação de Leão. Isso quer dizer que já estamos no período da Lua Negra (como também é conhecida a rebelde Lilith), ou seja, o ciclo termina onde começou: na Lua Nova de Leão, lembram? Dia 8/8, quando saiu a primeira crônica do Oráculo de Lilith, que foi o dia do Portal de Leão também.
Por isso, hoje, agora, a pergunta é: qual o assunto ‘leonino’ que voltou na sua vida nesses últimos dois ou três dias? (O que acontecia a você no dia 8/8? Onde passou o dia? O que sentiu?) E a dica: vai ter a ver com a casa regida por Leão no seu mapa astral. Quem souber a casa que é regida por Leão, coloca nos comentários e eu digo o tema. Quem não souber, venha fazer seu mapa e vai descobrir. E o arremate da dica: seja lá a casa/tema que for, vai ter a ver com o assunto principal de Leão — autoestima — e o quanto me valorizo naquela área. Isto é, naquela área da minha vida, Leão é Rei, e lá a barra é alta, ele não vai aceitar qualquer coisa. Por que é bom saber? Porque pode ser que você esteja aceitando muito pouco numa área que muito pouco é migalha, e aí, Leão empaca, finca o pé no chão, e este teu território não cresce. E aí, vamos subir a barra? Encara seu Leão que ele lhe ajuda, porque todo mundo é rei em algum lugar do mapa astral.
* Você pode se consultar com Ana Karina Luna — Tarô, mapas astrais; faça contato em @oraculo.de.lilith / @anakarinalua / @luanegracartonera