Produção norte-americana que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14) faz jus à habilidade do diretor australiano com seus filmes-shows intensos e frenéticos; é o tom perfeito para a avalanche que foi a vida de Elvis Presley
15 de Julho de 2022, 13:02
Sebage Jorge é jornalista, poeta, músico e editor do site Alagoas Boreal
Este velho crítico de cinema, que faz tempo parou de ir às salas, vê um ou outro filme na Netflix, dublado (risos). Editando o site Alagoas Boreal desde julho de 2013, já dedicamos mais espaço para o cinema e, claro, continuamos a reportar novas produções alagoanas, eventos etc. Porém, há essa lacuna da crítica de cinema. Nem me arvorarei a avaliações técnicas, na verdade gosto de trabalhar com a impressão que o filme nos deixa, a emoção que ele causa, juntando-se a isso informações básicas, referências e, claro, a performance dos atores e direção dos mestres.
Havia uma pré-estreia na cidade, “Elvis”, no Arte Pajuçara. E eu acabara de ver uma reportagem no “Fantástico”, me liguei que era uma produção do grande Baz Luhrmann, da época que eu resenhava filmes para o Agora São Paulo, sim, lá na Paulicéia, e como ficamos todos maravilhados com a dança dos bailarinos e a dança de cores de “Moulin Rouge” (2001), daí pensei, “opa, vamos ver esse filme”. E então volto a escrever sobre cinema, agora para o Alagoas Boreal.
E assim, está lançada a coluna “Filmes e Memórias”. Pra não ficar apenas nas estreias (e nem ter essa obrigação), falaremos também de momentos e emoções causados pelos mestres e ícones e por qualquer outro viés partindo da cultura do cinema. Começando por “Elvis”.
Fui à premiere cheio de expectativa, lembrando da surpresa decepcionante que foi “Bohemian Rhapsody” (2018), mas absolutamente confiante porque se tratava de Baz Luhrmann. Olha, a dificuldade foi me adaptar à legenda, esse cabra muito míope que sou, e de fato os caracteres são pequenos, aff. Eu estava com meu amigo e parceiro musical Pc Lamar e antes tomamos uma sukita em lata e comemos cookies lacta, a sala já lotada. Depois, ficamos todos vidrados no filme.
Luhrmann em plena forma deitando e rolando, cheio de graça e encanto, sobre a vida de Elvis Presley. Duração, 2h39. Vertigem. Ópera desvairada sobre um artista que você a vida toda ouviu falar. Ouviu suas canções algumas vezes. Ouviu versões dessas canções, sempre. Eu, pessoalmente, vi um sem número de covers de Elvis — em pelo menos três décadas, na TV e em dezenas de eventos. E de longe qualquer um dos covers mais perfeitos ou mais artísticos já lançado nesses shows nostálgicos e bolorentos chega perto da performance estupenda de Austin Butler.
É impressionante. O problema é que é uma vida toda em pouco mais de duas horas e meia de filme. Uma produção longa, a história de Elvis desde criança ouvindo e fazendo o corpo tremer ao som dos coros e dos cantores negros performando o gospel das igrejas. Essa avalanche de informações pode dificultar a compreensão da história toda, não dá nem para perguntar ao companheiro, “o que foi que rolou?”. Distraiu-se com a pipoca, já era, a cena, o tempo, já são outros.
Mas a intensidade visual e de atuação, Tom Hanks na pele do velho Coronel Parker, que nem era coronel nem americano — nasceu nos Países Baixos, Holanda —, o cara era um pestidigitador. “Elvis”, a ilusão do grande show, afinal, traz a marca do próprio Luhrmann: ele também um mestre ilusionista. O importante é que o drama torna-se transparente, a pressão de Parker sobre Elvis conhecida de todos torna-se real, compreensível, os fatos vão se desenrolando, dessa forma vertiginosa, okay, e quando você se dá conta, lá está o Elvis aprisionado em si próprio, com o rosto inchado, belo de todo jeito, prestes ao infarto que o matou aos 42 anos.
E você quer chorar na última performance no Hotel Internacional, em Vegas. Mas não é sobre Elvis mais, é sobre Austin Butler, cantando, interpretando, dançando, com a força de um furacão.