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95 anos da bonequeira Morena Teixeira são celebrados na Ilha do Ferro

Organizado pela galeria Cabra, o evento fica aberto até abril, reunindo bonecas artesanais, bordados, textos, fotografias, ilustrações, mostras de vídeo e oficinas

11 de Março de 2021, 16:34

Eduardo Afonso Vasconcelos

O povoado Ilha do Ferro, às margens do Rio São Francisco em Pão de Açúcar, município distante 230 km a oeste da capital, comemora os 95 anos de vida de Bernadete Rosália Teixeira. Mais conhecida como Dona Morena ou Morena Teixeira, ela é uma artesã sensível e imaginativa e, com suas bonecas, ajudou a criar o universo fantasioso (e fantástico) dessa famosa Ilha do Ferro. Uma exposição de 95 bonecas feitas pela artista, intitulada “Entre Linhas curvas, Retalhos de Histórias e Tecituras de Memórias”, está em cartaz na galeria Cabra, que é um espaço cultural criado pelo artista visual André Dantas. Ficará até o fim de abril e, para quem puder aproveitar uma oportunidade, eis um bom motivo para pegar a estrada e visitar a exposição e, claro, aproveitar as outras belezuras desse cantinho mágico e ribeirinho do nosso Sertão. A mostra apresenta vídeos, textos, bordados, fotografias, ilustrações, além de promover oficinas de produção de bonecas.

Bonecas de Dona Morena em exposição

A ilustradora mineira Bruna Barros divide a curadoria do evento com o alagoano André Dantas e com a estudante de sociologia da Universidade de São Paulo, Tarsila Cober. Ainda se uniu a eles o professor da Universidade do Estado de Alagoas (a Uneal) e pesquisador de arte popular Jairo Campos – cedendo todo o acervo de bonecas que compõem a exposição. Dantas diz que a iniciativa veio da “necessidade de valorizar a memória”. “O fazer e o contar do povo ribeirinho”, ele afirma, destacando sua intenção de “reapresentar” Dona Morena a seu povoado. 

Nascida em 1926, Morena Teixeira foi parteira e, até hoje, é benzedeira, contadora de histórias e bonequeira. Carrega a identidade dessa comunidade de pescadores escultores e bordadeiras bonequeiras, pessoalmente reforçando uma poderosa tradição oral e manual que passeia pelo universo indígena, africano e, também, católico. Assim, a exposição que celebra a história de Dona Morena busca, como afirma o artista e galerista André Dantas, “ratificar a importância da artista como alguém que não somente produziu cultura na região, mas que, em sua estética de existir, guardou memórias, sacralizou saberes e fazeres e poetizou a vida de uma forma singular”.

A bonequeira e contadora de histórias Dona Morena/ Fotos/ Nide Lins/ Cortesia
Distante 230 km de Maceió, Pão de Açúcar reserva esse patrimônio de saberes, Ilha do Ferro
Fachada da galeria Cabra, de André Dantas/ Foto/ Divulgação

Foi com esse objetivo – conta Dantas – que, em janeiro de 2018, fundou na Ilha do Ferro a galeria Cabra, como um espaço de promoção e salvaguarda das diversas manifestações artísticas ocorridas no rico povoado. Com olhar para o patrimônio material e imaterial da comunidade, o empreendimento vem reunindo artistas, estudiosos e demais moradores para estimular a formação artística local. Hoje, André Dantas, Bruna Barros e Tarsila Cober, que tocam o projeto juntos, enxergam na galeria um centro cultural ribeirinho.